A pequena correu até a cômoda, pegou uma blusa de frio,
estava ventando muito naquela noite, ela abriu a janela lentamente, pois era
velha e costumava fazer barulho, e ela não queria acordar seu pai, após isso,
ela ficou de frente para Salazar. Embora estivesse ventando muito e fizesse
frio, ele estava com uma camisa de manga curta e não aparentava estar com frio.
Salazar soltou as pedras que caíram no gramado, ficou
debruçado sobre a proteção de sua varanda olhando para Aline:
- E então, já esta mais calma pequena?
Ela ficou brava e fez um bico, igual a uma criança, cruzou
os braços e olhou para o lado:
- Não acredito que me chamou aqui apenas para perguntar
isso!
- E o que você esperava que eu dissesse? Quer que eu te
convide para conhecer minha casa às três horas da madrugada? – Salazar e seu
sarcasmo atacaram novamente.
Novamente Aline o encarou, mas já não estava mais brava:
- Quero que me explique o que foi aquilo hoje à tarde! Por
que matou Pedro! Por que me salvou? E como você é tão habilidoso?
Como estava sempre com um sorriso falso no rosto, era
difícil levar a sério algumas coisas que Salazar dizia.
- Seu pai me fez perguntas parecidas, e eu não o respondi,
por que deveria responder você?
A pequena começou a ficar irritada com tanta conversa:
- Por que você me chamou para conversar às três horas da
manhã, por que você matou um cara na minha frente sem hesitar, por que eu sou a
envolvida e não ele! Satisfeito senhor Salazar?
- Parabéns – disse Salazar, ele parecia estar esperando tal
reação da pequena – finalmente você mostrou a garota que você é, mas espero que
esteja pronta para ouvir o que vou dizer.
O coração de Aline palpitou mais rápido, ela se debruçou
sobre a janela, ela estava se preparando para algo forte. Salazar passou a mão
no cabelo e olhando nos olhos de Aline disse:
- Eu não te salvei por caridade, você apenas estava no local
errado na hora errada, eu já ia matar Pedro uma hora ou outra, o momento apenas
foi importuno para você, eu sou um assassino.
Aline prestava tanta atenção que estava de boquiaberta, mas
esta era uma das respostas esperadas:
- Eu já desconfiava que você fosse um assassino, porém achei
tudo muito surreal, mas por que assassinos matam outros assassinos?
- Não algo que ocorre
comunmente – respondeu Salazar – alguns assassinos decapita outros para roubar,
o que não foi o meu caso, Pedro era um iniciante, muito inexperiente, na idade
dele eu já tinha um quarto do que tenho hoje e já era temido por metade da
cidade, sem nem mesmo sequer ter um nome, alguém inexperiente como ele atrairia
muitos olhares indesejados para o bairro com o passar do tempo, o que me
comprometeria, então decidi acabar logo com ele, afinal ele seria apenas um
incômodo.
Espantada, a pequena escutava tudo, ela pensou em não
acreditar em Salazar, mas era quase que impossível, as motos e o aluguel caro,
era muito dinheiro para alguém daquela idade estar ganhando honestamente, e o
assassinato a sangue frio lhe dava a certeza:
- Tudo bem, com todos os fatos e o ocorrido, tudo indica que
você realmente é um assassino, mas, qual?
Salazar se virou, e adentrou seu quarto, Aline pensou que
ficaria sem resposta, mas ele virou-se de volta:
- É agora que começa a diversão, afinal a mente humana
precisa de enigmas para se mantiver em atividade, o mistério, por mais
tenebroso que seja desperta a curiosidade humana, é um dom ou uma maldição,
pode fazer evoluir ou matar, depende do risco que se esta disposta a correr.
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